quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Entrevista com Paul Bradshaw

Confira abaixo a entrevista realizada com Paul Bradshaw, do Online Journalism Blog, sobre jornalismo wiki e o futuro do jornalismo online. A entrevista foi realizada por e-mail, entre os dias 15 e 18 de setembro. A versão original da entrevista, em inglês, pode ser encontrada neste endereço. Os links foram adicionados pelo entrevistado.

Paul Bradshaw leciona jornalismo online no Departamento de Mídia da University of Central England, em Birmingham, Inglaterra.





1. Como você teve a idéia de escrever um artigo sobre jornalismo wiki em um formato wiki? O texto recebeu mais alguma alteração e contribuição após a versão apresentada na “Future of Newspapers Conference”?

No ano passado, Shane Richmond escreveu uma postagem em seu blog em reação a outra postagem de Bambi Francisco. Eu escrevi uma postagem perguntando ‘os wikis são os novos blogs’,que foi então reescrita na forma de um artigo para a Press Gazette. Quando a conferência abriu a chamada para trabalhos, achei que seria um assunto interessante para explorar a fundo. Suponho que isso seja um exemplo de jornalismo iterativo em ação. Postá-lo como um wiki foi uma maneira óbvia de experimentar o formato (também criei uma página na Wikipedia para ‘wiki journalism’). Nenhum dos dois recebeu mudanças desde a conferência.


2. No jornalismo wiki, quem é o verdadeiro autor, o jornalista que iniciou o texto, ou todo mundo que contribuiu para ele?

Acho que esse é o maior problema em relação à adoção de wikis – a necessidade cultural por ‘autoria’. Provavelmente não há nenhum “verdadeiro autor” em muitos wikis, mas algo mais como uma comunidade de autores ou contribuintes, se você preferir.


3. As organizações jornalísticas parecem temer o conteúdo gerado por usuários. Elas realmente devem temer a participação? Ou, em outras palavras, qual é o papel do jornalista profissional em uma cobertura baseada em blogs, wikis e outros tipos de mídia?

A maior parte das pessoas teme mudanças. Conteúdo gerado por usuário força os jornalistas a readaptar seus papéis, e isso pode ser desconfortável. Conteúdo livre força as organizações jornalísticas a readaptar seus modelos de negócios, e isso é caro e disruptivo. Claro que elas não devem temer a participação do usuário – isso pode liberar o jornalismo e abrir novos caminhos para ganhar dinheiro. O que elas realmente têm medo é de ficar fora do jogo, e enquanto para algumas a reação tem sido o protecionismo, a pior coisa a fazer é não fazer nada. O papel de um jornalista profissional “em uma cobertura baseada em blogs, wikis e outros tipos de mídia?”. Primeiramente, não acho que a cobertura jornalística é baseada nessas coisas ainda, ou que irá ser assim em um futuro próximo. Mas acho que elas são um fator importante, e nessa situação, o papel do jornalista profissional é mover-se acima do conteúdo.

O que quero dizer com isso é: os jornalistas não mais precisam agir como um constante intermediário, processando a informação da fonte ao leitor. Leitores podem acessar fontes comerciais e oficiais online. Os jornalistas, então, precisam interrogar mais essas fontes, desafiar mais as asserções, e coletar reações da blogosfera e de outras fontes.

Da mesma forma, alguns jornalistas irão precisar desenvolver um papel de controle da comunidade, para manejar conteúdo – juntar blogueiros e fontes, desenvolver tecnologias de agregação, e usar leitores como fonte em assuntos que de outra forma seriam impossíveis de serem cobertos. O que os jornalistas não precisam fazer é apenas adicionar mais ruído ao excesso de informação.



4. Qual é o futuro das notícias online? A participação da audiência é inevitável? Uma organização que ignora essas novas ferramentas para o jornalismo online pode de fato sobreviver?

O futuro virá de forma mais lenta do que pensamos. As culturas são resistentes. As tecnologias são cooptadas e neutralizadas pela mídia tradicional. O impresso ainda desempenha um papel, assim como a TV e o rádio, e os leitores e espectadores são mais passivos do que nós algumas vezes gostaríamos que fossem – embora eu esteja animado com a geração que está crescendo ‘fora do cativeiro’ por assim dizer. O que está havendo é uma lenta educação, tanto de jornalistas quanto de leitores, em livros de novas mídias: nós teremos muitos experimentos, muitos fracassos, alguns sucessos. Acho que a mobilidade irá se tornar cada vez mais importante para notícias, assim como as redes sociais: o modo como nós consumimos notícias sobre nossos amigos via Facebook é uma indicação de como as coisas irão se desenvolver.

Nada é inevitável, mas acho que ‘participação da audiência’ – eu preferiria o termo ‘comunidade’ – é uma parte importante disso, tanto se ela acontecer nos websites da mídia tradicional ou em qualquer outro lugar - como no YouTube ou no Facebook -, e as organizações jornalísticas precisam levar isso em conta ou elas irão perder espaço para sites e serviços como o Facebook.

Mas ferramentas são apenas ferramentas, e uma organização que as ignore mas ainda assim consiga contar ótimas histórias e distribuí-las (e cada vez mais isso está sendo feito por outras pessoas) pode sobreviver.



5. E uma pergunta extra, para ser respondida com base nos resultados da sua experiência de usar o Twitter para falar sobre o que estava acontecendo na conferência: Microblogs como o Twitter podem serem usados para a cobertura de notícias e eventos? Daria certo para qualquer tipo de notícia, ou parece haver usos restritos para eles?

Sim. Mas acho que eles funcionam melhor para eventos que estão acontecendo no momento, como conferências, festivais, assembléias gerais, histórias com desdobramento, etc. nos quais há muita informação e ‘manchetes’ são úteis. Para mim, notícias de um único fato não requereriam um tratamento no Twitter.



(Tradução: Gabriela Zago)

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